Dor pélvica, genital e lombar são queixas frequentes na população em geral. Sintomas como ciatalgia ou dores glúteas e dores com irradiação para membros inferiores são habitualmente atribuídos a discopatias ou outras doenças da coluna.
As dores pélvicas e perineais são, também, com frequência atribuídas a agravos do trato genital inferior. Uma vez excluídas estas causas, esses sintomas são frequentemente taxados como idiopáticos ou psicogênicos.
O mesmo acontece com outras situações, como a proctalgia ou a meralgia parestésica (síndrome de Bernhardt-Roth). Então, faz-se uma abordagem de forma sintomática, com tratamentos medicamentosos a base de analgésicos, antidepressivos, anticonvulsivantes e opioides, sem esclarecer sua etiologia.
A compressão nervosa intrapélvica pode justificar alguns destes quadros. No entanto, explora-se ainda muito pouco esta possibilidade. Aliás, vale ressaltar que a dificuldade de acesso destes nervos faz com que sua abordagem clínica seja difícil.
As avaliações neurofisiológicas (com eletromiografia, por exemplo) são pouco precisas e não determinam o sítio de acometimento dos nervos e que exames de imagem sejam de difícil interpretação, necessitando de um profissional bastante experiência em neurorradiologia pélvica.
Tais diagnósticos também são limitados devido à dificuldade de acesso cirúrgico. Enquanto os nervos cervicais e torácicos têm trajetos superficiais, adequados para o acesso posterior habitualmente praticado por neurocirurgiões e cirurgiões de coluna, os nervos lombares têm pouco ou nenhum trajeto posterior. Com isso, logo mergulham na pelve, onde o acesso e a visualização por via laparotômica ficam muito restritos, devido à localização e dimensões desses nervos.
De fato, necessita-se de uma abordagem específica para estes quadros, reunindo o conhecimento da neurologia clínica, associado ao exame dos nervos pélvicos por via vaginal, retal e por métodos de imagem.
Compressão nervosa intrapélvica: a importância da Neuropelveologia
Reconhecer os nervos e seus trajetos, a área por eles inervadas e suas funções sensitivas e autonômicas é fundamental para o reconhecimento do nervo encarcerado e da topografia do encarceramento, para posterior reconhecimento da sua etiologia (que pode ter causas variadas).
A Neuropelveologia, idealizada por Marc Possover, por meio da técnica LANN (Laparoscopic Neuronavigation), permitiu a identificação laparoscópica dos nervos do plexo lombossacral e como resultado abriu o leque de diagnósticos diferenciais da lombociatalgia e da dor pélvica e perineal.
Por fim, isso também permitiu o avanço para os diagnósticos topográfico e etiológico em muitas afecções para as quais a medicina vem, atualmente, se contentando com o diagnóstico sindrômico, como a síndrome da bexiga dolorosa, a síndrome do cólon irritável ou a síndrome da bexiga hiperativa.
Referências bibliográficas
Possover M., Forman A., Rabischong B., Lemos N., Chiantera V. Neuropelveology: New groundbraking discipline in medicine. Journal of Minimally Invasive Gynecology, 2015, Perspective.
Lemos N., Possover P. Laparoscopic approach to intrapelvic nerve entrapments. Journal of Hip Preservation Surgery, 2015. Review Article
2 respostas para “Compressão nervosa intrapélvica: uma mudança de paradigmas”
Boa noite, enviei mensagem anterior, porém ainda não tinha informações precisas. Paciente com Hidrossiringomielia T2 a D9 , segundo RM , submetida a cirurgia e agora inicia radioterapia, paraplegia, com incontinência urinária, constipação. Refere sensibilidade em região vaginal . Há chances para a cirurgia? Ela é paciente SUS aqui em Franca
Olá, Gulnara!
Para sabermos se a neuromodulação é uma opção, precisamos avaliar-la depois de terminada a radioterapia.