Em suma, a espasticidade é definida como “disfunção motora caracterizada por aumento do tônus muscular dependente da velocidade de extensão muscular, envolvendo reflexos tendíneos exacerbados, que resultam da hiperexcitabilidade de reflexos extensores”. (Lance, 1980)
Clinicamente, a espasticidade se manifesta pelo aumento de resistência oferecido à extensão passiva de um músculo. Além disso, é um dos componentes da Síndrome do Neurônio Motor Superior (SNMS). (Mukherjee, 2010)
Os neurônios motores superiores formam vias inibitórias e excitatórias que descem pela medula, exercendo dessa forma um controle balanceado nas atividades reflexas espinhais. O principal trato inibitório da atividade espinhal reflexa é o Trato Reticuloespinhal Dorsal.
Já as principais vias excitatórias se iniciam no tronco cerebral, no tegmento bulbopontino, e descendem medialmente pela medula. Por fim, devido à localização destas vias em diferentes áreas, lesões distintas podem causar manifestações clínicas variadas. (Sheean, 2002)
A lesão do neurônio motor superior, que pode ser decorrente da lesão medular cervical ou torácica, “desregula” o equilíbrio supraespinhal de estímulos inibitórios e excitatórios.
Dessa forma, a LM (Lesão Medular) leva à perda da ação facilitadora central sobre os interneurônios inibitórios e à diminuição da ação inibitória central sobre os interneurônios excitatórios.
Isso permite o aumento da atividade dos neurônios motores (do tipo alfa), ou seja, podendo levar a espasticidade muscular em grupos musculares isolados ou difusamente, abaixo do nível da lesão. (Schramm, 2006)
Consequências da espasticidade
Presente em 70% dos portadores de LM, a espasticidade pode apresentar consequências positivas e negativas. (Finnerup, 2017)
Dentre as consequências positivas, podemos destacar:
- A facilitação dos atos de ortostatismo (sentar, ficar de pé);
- Transferências;
- Realização de algumas atividades de vida diária (AVDs), por exemplo, vestir os membros inferiores, e da possibilidade de andar. (Adams, 2007)
Por outro lado, os fatores negativos incluem:
- Quadros dolorosos;
- Fadiga;
- Aumento do risco de queda;
- Prejuízo na funcionalidade;
- Piora de humor e qualidade de sono;
- Impacto negativo na autoestima e imagem corporal;
- Prejuízo na integração social e na função sexual;
- Dificuldades de mobilidade, bem como a realização de transferências e de AVDs. (Adams, 2007; Finnerup, 2017)
Além disso, a contração muscular prolongada pode causar deformidades articulares e alterar as propriedades intrínsecas dos tecidos moles, o que reduz a amplitude de movimento e a utilidade dos movimentos residuais em portadores de lesão parcial. (Elbasiouny et al, 2010)
Por fim, o tratamento ideal da espasticidade seria aquele que mantivesse seus efeitos positivos e eliminasse os negativos.
Os tratamentos utilizados atualmente incluem fisioterapia, tratamento medicamentoso sistêmico, técnicas de neurólise química, bem como a aplicação de toxina botulínica, neuroablação cirúrgica e eletroestimulação. (Elbasiouny et al, 2010)